segunda-feira, 15 de julho de 2013

Organizando o caos

Organizando o caos

Já era um costume de sua família organizar os quartos e os armários todo final de ano e nesse ano não foi diferente para Theo, por ordem de sua mãe, ele deu início a arrumação de seu quarto, que para ele mais parecia um verdadeiro caos. Todos os pequenos objetos e peças de roupas de um ano de sua vida se encontravam espalhados pelos cantos do quarto, a bagunça era generalizada e chegava a confundir a cabeça do garoto que após alguns instantes de paralisia, ocasionada pelo desespero, deu início a difícil tarefa.
Era como se a vida inteira dele estivesse naquele quarto, é logico que não caberiam ali todos os momentos que ele havia passado em seus dezoito anos de idade, porém cada objeto que ali estava lhe trazia a lembrança de algum momento marcado em sua memória. Os quadros de borboleta, herdados da avó, lhe traziam um pouco do sabor da infância sonhadora e mágica vivida no interior, o santo pendurado na parede lhe remetia aos tempos de catecismo, em que o medo de pecar havia lhe deixado certa culpa cristã e o cartão de natal ganho da primeira namorada, que lhe fazia respirar novamente os questionamentos de sua pré-adolescência.
À medida que ia organizando o seu caos, ele ia ressignificando sua vida, colocava cada coisa em um lugar de acordo com sua importância, para o fundo do armário iriam aquelas lembranças que fizeram parte do passado, mas que pelo apego não poderia se desfazer. Já nas prateleiras mais acessíveis, colocava aquilo que fazia parte do seu cotidiano, de modo a facilitar a correria diária de inicio de faculdade. Por fim, colocava a vista os objetivos que eram muito significantes e que formavam de certo modo sua personalidade. Algumas coisas ele jogava no lixo, pois era necessário se livrar daquilo que não lhe fazia mais sentido para dar espaço a novos sonhos.
No final do dia, ele finalizou a arrumação, colocando no mural de cortiça pendurado na parede aqueles lembretes para o futuro recente, o bilhete da atual paquera, o anúncio de jornal com uma oferta de emprego, o cartão postal da sonhada viagem que poderia vir a fazer, entre outros pequenos grandes planos. Arrumado o caos ele pode sentar na poltrona e ler tranquilamente o seu livro de poemas, pois se sentia pleno e sabia que, mesmo fisicamente sozinho, não estava só, uma vez que aquilo tudo, de certa forma, lhe pertencia e preenchia o vazio de viver.

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